TEXTOS EDUCATIVOS

Neste espaço você encontrará muitos textos acerca de diversos temas. Entre eles as diversas formas de linguagem.

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sábado, 30 de abril de 2011

FALAR X COMUNICAR?



Marcos Bagno

3 de dezembro de 2010 às 16:54h

Falar é comunicar quem somos, de onde viemos, a que comunidade pertencemos

Existe na nossa cultura escolar, no que diz respeito ao ensino de língua, uma ideia muito entranhada e que precisa ser veementemente exposta e combatida. É a noção de que “o que importa é comunicar”, de que, “se a mensagem foi transmitida, tudo bem”, e coisas assim. Quero deixar bem claro aqui, logo de início, que não, não e não – essa é uma visão muito pobre e mesquinha do que é a língua e dos papéis sociais que ela exerce. Repetir essas ideias é algo extremamente prejudicial para uma boa educação linguística.

Essa ideia é uma deturpação violenta de teorias linguísticas sofisticadas, que, lidas pela metade ou só na superfície (quando são lidas!), se transformam em conceitos tomados como “verdades científicas” pelos que não se empenham em estudar mais a fundo. E, para piorar, serve de acusação contra os linguistas por parte de pessoas que pretendem, com isso, desqualificar o trabalho dos pesquisadores e tentar preservar a ferro e fogo uma concepção de “língua culta” obtusa, obscura e irreal.

A língua é muito mais do que um simples instrumento de comunicação. Ela é palco de conflitos sociais, de disputas políticas, de propaganda ideológica, de manipulação de consciências, entre muitas e muitas outras coisas. A língua nos leva a votar nessa ou naquela pessoa, a comprar tal ou qual produto, a admitir que determinado evento ocorreu de determinada maneira e não de outra, a aderir a uma ideia, e por aí vai, e vai longe… No mercado financeiro, por exemplo, tudo se faz por meio das palavras. Os títulos negociados na Bolsa de Valores não têm existência concreta, são mera abstração, dependem exclusivamente do que se diz ou do que se deixa de dizer: basta lançar um boato sobre uma empresa, dizendo que ela está para falir, e o valor das ações despenca. O que alguns chamam de “invasão” (de terras, por exemplo) outros chamam de “ocupação” (de áreas improdutivas). Onde alguns falam de “terrorismo” outros preferem falar de “revolução”. Para os fiéis de determinada religião, certos atos são “pecados”, enquanto para os de outra são perfeitamente justificados e bem-vindos. O que o governo americano chamou de “Guerra do Iraque” muitos analistas classificam simplesmente de “invasão”, já que os iraquianos não fizeram nada contra os Estados Unidos.

A língua é a nossa faculdade mais poderosa, é o nosso principal modo de apreensão da realidade e de intervenção nessa mesma realidade. Vivemos mergulhados na linguagem, não conseguimos nos imaginar fora dela – estamos mais imersos na língua do que os peixes na água.

Além disso, a língua é um fator importantíssimo na construção da identidade de cada indivíduo e de cada coletividade. Ela tem um valor simbólico inegável, é moeda de troca, é arame farpado capaz de incluir alguns e excluir muitos outros. É pretexto para exploração, espoliação, discriminação e até mesmo massacres e genocídios.

Por isso, não se pode admitir essa falácia de que “o importante é comunicar”. Abrir a boca para falar é se expor, inevitavelmente, aos julgamentos sociais, positivos e negativos, que configuram a nossa cultura. Falar é comunicar, sim, mas não “transmitir uma mensagem” como ingenuamente se pensa: é comunicar quem somos, de onde viemos, a que comunidade pertencemos, o quanto estamos (ou não) inseridos nos modos de ver, pensar e agir do nosso interlocutor.

Assim, numa sociedade, como a brasileira, tradicionalmente excludente e discriminadora, é fundamental que a escola possibilite a seus aprendizes o acesso ao espectro mais amplo possível de modos de expressão, a começar pelo domínio da escrita e da leitura, direito inalienável de qualquer pessoa que viva num país republicano e democrático. A leitura e a escrita, o letramento enfim, abrem as portas de incontáveis mundos discursivos, aos quais os aprendizes só vão ter acesso por meio da escolarização institucionalizada.

Por isso, não basta ter o que dizer. É preciso saber dizer o que se tem a dizer: saber usar os múltiplos recursos que a língua oferece para a interação social. E isso é função imprescindível da escola: ensinar a dizer.

A AGULHA E A LINHA



Um Apólogo

Machado de Assis


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!


Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.

Conheça o autor e sua obra visitando "Biografias".

PRÁTICA REFLEXIVA E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA





As atuais teorias lingüísticas e as propostas de ensino de Língua Portuguesa nas séries inicias apontam para o texto como objeto central de ensino. Nesse sentido, a prática de análise lingüística do texto se torna essencial para que o docente leve a efeito o texto como eixo de articulação e progressão curricular.

Nessa concepção, as atividades de leitura, produção de textos, análise lingüística e refacção textual passam a ser integradas, proporcionando aos alunos, orientações mais claras quanto à compreensão e produção de textos; e aos professores, o estabelecimento de critérios para a organização de sua prática pedagógica e a possibilidade de transposição didática. Entretanto, essa prática requer do professor o desenvolvimento de capacidades de percepção lingüística que promovam ação autônoma, crítica e ética.

Conforme Marcuschi (2004), a formação intelectual do aluno de Letras e demais cursos na área de Humanas deve estar voltada à formação para a competência e não para a simples competição no mercado. Assim, adotando-se o conceito de competência aplicada como capacidade de viver profissionalmente o que se sabe teoricamente é que os estudos atuais vêem o texto como o foco de todo o aprendizado. Ele é o centro de tudo...

Os estudos lingüísticos desenvolvidos atualmente operam com conhecimentos de outras ciências para dar conta de estudar criticamente a linguagem, formulando modelos teóricos no âmbito dos procedimentos de interpretação e produção lingüística. Silva (2007) destaca como questões recentes da Lingüística: a noção de conscientização lingüística, o “modo” de aprendizagem de línguas, a aprendizagem via interações dialógicas, os padrões de interação professor-aluno, a aprendizagem centrada no contexto e o professor como
pesquisador. O mestre deixa de ser o que sabe, mas o que aprende sempre.

Também Rojo (2008) apresenta uma metodologia transdisciplinar para fazer a análise enunciativa da aula dialogada, interativa como gênero escolar, propondo a relação entre o sistema de atividades que a constitui e o sistema de gêneros textuais (orais e escritos) que se alinham para promover uma dada intenção enunciativa. Assim, ao estudar a enunciação de uma aula dialogada, a pesquisadora descreve as vozes em conflito do autor de um texto lido por um aluno e da professora, que, numa atitude bastante comum na prática docente, interrompe-o para comentar o texto; entretanto, fica evidente que ela desvirtuou o sentido do texto.

Atualmente as aulas de Língua Portuguesa deixam de ser meramente aulas de gramática e passam a ser aulas de várias linguagens e de diversos gêneros textuais, entre eles os mais usados na mídia: os gêneros textuais vieram para ficar. São usados em todos os lugares de comunicação e em todas as situações comunicativas. Faz-se necessário ao professor atualizar-se, a fim de que não fique a mercê da aprendizagem meramente bancária que não tem mais respaldo diante de tantas mudanças tecnológicas. O mundo mudou e a escola também necessita mudar e acompanhar o que está em sua volta.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO



Essa imagem ilustra bem o conceito de letramento. É abrir as portas e janelas do mundo por meio da leitura, da oralidade e ser capaz de se relacionar bem nas diversas práticas sociais.

"Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que pode ser. "
Magda Soares

O tema foi iniciado pela professora Rosineide Magalhães (CFORM/UnB). Vimos primeiro que a leitura e a escrita devem ser concebidas dentro de práticas sociais, tornando o aluno capaz de participar de sua comunidade de forma efetiva.


Conceitos:

Letramento: conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito. HOUAISS, 2004

Alfabetização: é um processo dentro do letramento e, segundo Magda Soares, é a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever.

A criança, mesmo não alfabetizada, já pode ser inserida em um processo de letramento. Pois, ela faz a leitura incidental de rótulos, imagens, gestos, emoções. O contato com o mundo letrado é muito entes das letras e vai além delas. Sendo assim chegamos à seguinte pergunta:

Para que serve a escrita então?

Segundo a professora Rosineide Magalhães, no texto “Letramento como Prática Social”, a escrita e a leitura são consumidas, hoje, pelas pessoas como meio de sobrevivência, com o objetivo de formação acadêmica, profissional, integração e interação social, resolução de problemas cotidianos, condição de entender o mundo e suas tecnologias.

Há diferentes tipos de letramentos associados a diferentes domínios sociais, por exemplo: letramento tecnológico, literário, religioso. O letramento autônomo é aquele que acontece somente dentro da escola, desvinculado do mundo. Tais formas estão incluídas ou no letramento formal, legitimado; ou no informal, incidental.

Para aprofundamento teórico utilizamos um material do livro Letramento: um tema em três gêneros de Magda Soares. A autora coloca três perguntas ao longo do texto e mostra vários exemplos para levar a compreensão do termo letramento. São elas:

Qual é o significado dessa palavra letramento?

Por que surgiu essa nova palavra, letramento?

Onde fomos buscar essa nova palavra, letramento?


Preparei o material da aula na tutoria respondendo tais questionamentos. Coloquei também o letramento na educação infantil, que se dá basicamente por meio da oralidade e das múltiplas linguagens.


Slides: Letramento na EI



Em outro momento trabalhamos com o texto: A Organização de Atividades Culturalmente Significativas de Zilma Ramos de Oliveira, para tratar do trabalho pedagógico com múltiplas linguagens. Nós lemos o texto e respondemos o seguinte roteiro de trabalho:



1 - Identifique as diferentes linguagens presentes nas atividades da educação infantil.
Linguagens corporal, plástica, musical, dramática, oral, escrita, natural, emocional.

2 - Como podemos organizar as linguagens no currículo da educação infantil?
Devem-se prever momentos e atividades, no cotidiano escolar, que contemplem todas as linguagens. Fazendo com que a criança se torne capaz de utilizar com eficiência as diferentes formas de se comunicar. Na educação infantil o currículo deve ser flexível e pensado a partir daquilo que se constitui o meio de desenvolvimento da criança e das praticas sociais que ali acontecem.

3 - O jogo na educação infantil constitui diferentes linguagens? Reflita e argumente.

Sim, o jogo é constituído pelas linguagens corporal, simbólica, oral, dentre outras. Isso proporciona o desenvolvimento de processos psicológicos como a memória e a capacidade de se expressar utilizando as diversas linguagens.



4 - Estabeleça a relação jogo x desenvolvimento da criança x linguagem.

Piaget descreve as fases do jogo:

Jogos de exercício sensório motor: Simples exercícios motores por prazer.

Jogos simbólicos: Meio de assimilação do real e de auto-expressão. Satisfazer o eu por meio da transformação do real em função de seus desejos (liquidação de conflitos, compensação de necessidades não satisfeitas, inversão de papéis).
Jogos de regras: Conduta lúdica que supõe relações sociais claras, pois a regra é uma ordenação, uma regularidade imposta pelo grupo, sendo que sua violação é considerada uma falta.

Com a teoria de Piaget percebemos que o desenvolvimento acontece na interação da criança com o ambiente que o cerca. Mais precisamente, com a intervenção, a ação do sujeito nesse processo. No jogo, a criança experimenta seu meio, as relações sociais ali existentes e formula hipóteses sobre o funcionamento da língua e as testa em novos encontros sociais.




No encontro com a professora Márcia Gondim, fizemos a técnica da tempestade de idéias com os conceitos de letramento e alfabetização.

Alfabetização
Ensinar o código escrito
Signos e seus significados
Ensinar a leitura
Codificação e decodificação
Participação em um mundo desconhecido

Letramento
Refletir, interpretar
Leitura e compreensão de textos
Leitura de mundo
Função social
Respeito às diferenças culturais
Práticas sociais que utilizam a escrita
Libertação, construção da autonomia

Na exposição teórica, Márcia abordou pontos que serviram de base para reformular as idéias colocadas no início e construir nossos próprios conceitos. São eles:



Competência lingüística: todo falante nativo de uma língua possui, é a capacidade de se comunicar adquirida culturalmente.

Competência comunicativa: é a capacidade de transitar em diferentes domínios sociais, é adquirida na escola.

O papel da escola é trabalhar a competência comunicativa sem desvalorizar a cultura do aluno, aquilo que traz de seu meio social. Mostrar as diferentes formas de falar.

A escola é o ambiente de letramento e o professor é o agente.

Quanto à fala não existe certo ou errado, existe o adequado ou inadequado a determinadas situações.

Ratificação da fala: repetir de acordo com a norma padrão sem constranger.

Para cada contexto social temos uma forma de falar.

No processo de educação acontece a transposição da cultura do lar para a escolarizada, elas se somam na escola.

Para Magda Soares alfabetismo é outro termo para designar letramento.

O conceito de alfabetização para Magda Soares é restrito, refere-se apenas ao aprender/ensinar a ler e escrever. Já Emília Ferreiro coloca que não precisa usar outro termo (no caso letramento) para designar algo que já deveria estar dentro do processo de alfabetização.


Na aula estidamos o texto Alfabetização e Letramento: Caminhos e descaminhos de Magda soares. Eu trabalhei especificamente com minhas turmas as facetas da aprendizagem da leitura e da escrita. Após a explicação as cursistas identificaram cada uma das facetas em algumas atividades práticas descritas nos fascículos do Módulo 3.



Facetas da aprendizagem da leitura e da escrita:

1 - Faceta fônica: envolve o desenvolvimento da consciência fonológica, imprescindível para que a criança tome consciência da fala como um sistema de sons e compreenda o sistema de escrita como um sistema de representação desses sons, e a aprendizagem das relações fonema-grafema e demais convenções de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita.

2 - Faceta da leitura fluente: exige o reconhecimento holístico de palavras e sentenças.

3 - Faceta da leitura compreensiva: supõe ampliação de vocabulário e desenvolvimento de habilidades como interpretação, avaliação, inferência, entre outras.

4 - Faceta da identificação e uso adequado das diferentes funções da escrita, dos diferentes portadores de texto, dos diferentes tipos e gêneros de texto.

Na tutoria, promovemos uma palestra com a professora Madalena Torres sobre alfabetização e letramento, cujo material está disponibilizado abaixo:


Slides: Alfabetização e Letramento


Conceitos de letramento:

Do ponto de vista social, o letramento é um fenômeno cultural relativo às atividades que envolvem a língua escrita. A ênfase recai nos “usos, funções e propósitos da língua escrita no contexto social” (SOARES, 2006).



“Processo de inserção e participação na cultura escrita”. (VAL, 2006)


“Compreensão e uso efetivo da língua escrita em práticas sociais diversificadas”. (Ibid)


“Possibilidades de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita” (Ibid)


“Saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos” (BATISTA, 2003 in VAL, 2006, p. 19).


“Conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades, necessário para usar a língua nas práticas sociais” (BATISTA, 2003 in VAL, 2006, p. 19).

“... entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais” (SOARES, 2004).

“O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso dos sistemas da escrita nas sociedades, ou seja, o desenvolvimento histórico da escrita refletindo outras mudanças sociais e tecnológicas, como a alfabetização universal, a democratização do ensino, o acesso a fontes aparentemente ilimitadas de papel, o surgimento da internet.” (KLEIMAN, 2005).

Conceitos de alfabetização:

“Processo específico e indispensável de apropriação do sistema da escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia” (VAL, 2006, p. 19).


“A alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado código escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita” (VAL, 2006, p. 19).


“A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo ou grupo” (BATISTA, 006)



Fichamento do livro: Alfabetizar e Letrar de Marlene Carvalho


Textos:

Alfabetização e Letramento: Caminhos e Descaminhos - Magda Soares
Práticas de Letramento na Educação Infantil: O Trabalho Pedagógico no Contexto da Cultura Letrada - Cecília Goulart



Livro:

Letramento: um tema em três gêneros – Magda Soares

LETRAMENTO

Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. Alfabetizar letrando, é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, assim o educando deve ser alfabetizado e letrado. A linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vista cultural e social. A palavra letramento é utilizada no processo de inserção numa cultura letrada.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, embora a palavra literacy já constasse do dicionário desde o final do século XIX, foi nos anos 80 , que o fato tornou-se foco de atenção e de estudos nas áreas da educação e da linguagem. No Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam e se confundem. A discussão do letramento surge sempre envolvida no conceito de alfabetização, o que tem levado, a uma inadequada e imprópria síntese dos dois procedimentos, com prevalência do conceito de letramento sobre o de alfabetização. Não podemos separar os dois processos, pois a princípio o estudo do aluno no universo da escrita se dá concomitantemente por meio desses dois processos: a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades da leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita , o letramento.

O conhecimento das letras é apenas um meio para o letramento , que é o uso social da leitura e da escrita. Para formar cidadãos atuantes e interacionistas, é preciso conhecer a importância da informação sobre letramento e não de alfabetização. Letrar significa colocar a criança no mundo letrado, trabalhando com os distintos usos de escrita na sociedade. Essa inclusão começa muito antes da alfabetização, quando a criança começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o conhecimento alcançado de maneira informal absorvido no cotidiano. Ao conhecer a importância do letramento, deixamos de exercitar o aprendizado automático e repetitivo, baseado na descontextualização.

Na escola a criança deve interagir firmemente com o caráter social da escrita e ler e escrever textos significativos. A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita pelo indivíduo ou grupos de individuos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade. “Em termos sociais mais amplos, o letramento é apontado como sendo produto do desenvolvimento do comércio, da diversificação dos meios de produção e da complexidade crescente da agricultura. Ao mesmo tempo, dentro de uma visão dialética, torna-se uma causa de transformações históricas profundas, como o aparecimento da máquina a vapor, da imprensa, do telescópio, e da sociedade industrial como um todo”. TFOUNI, Leda Verdiani.

A alfabetização deve se desenvolver em um contexto de letramento como início da aprendizagem da escrita, como desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes de caráter prático em relação a esse aprendizado; entendendo que a alfabetização e letramento, devem ter tratamento metodológico diferente e com isso alcançar o sucesso no ensino aprendizagem da língua escrita, falada e contextualizada nas nossas escolas. Letramento é informar-se através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir selecionando o que desperta interesse, divertindo-se com as histórias em quadrinhos, seguir receita de bolo, a lista de compras de casa, fazer comunicação através do recado, do bilhete, do telegrama. Letramento é ler histórias com o livro nas mãos, é emocionar-se com as histórias lidas, e fazer, dos personagens, os melhores amigos. Letramento é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita, é entender quem a gente é e descobrir quem podemos ser.

Autora: Amelia Hamze
Profª FEB/CETEC e FISO

Sociolinguística

Sociolingüística é o ramo da lingüística que estuda a relação entre a língua e a sociedade.

Embora o aspecto social da língua tenha chamado a atenção desde cedo, tendo tido relevância já no trabalho do lingüísta suíço Ferdinand de Saussure no início do século XX, foi talvez somente nos anos 1950 que este aspecto começou a ser investigado minuciosamente.

Pioneiros como Uriel Weinreich, Charles Ferguson e Joshua Fishman chamaram a atenção para uma série de fenômenos interessantes, tais como a diglossia e os efeitos do contato lingüístico.

Mas pode-se dizer que a figura chave foi William Labov, que, nos anos 1960, começou uma série de investigações sobre a variação lingüística – investigações que revolucionaram nossa compreensão de como os falantes utilizam sua língua e que acabaram por resolver o paradoxo de Saussure.

Há três termos importantes para a sociolinguística que podem ser facilmente confundidos entre si:

Variedade - A variedade é o termo que corresponde, grosso modo, ao termo dialecto. Assim, por exemplo, as variedades do português setentrional são os dialectos do português falado no norte de Portugal. A variedade standard é o padrão linguístico de uma comunidade. Sociolinguisticamente, é comum encontrar a variedade standard junto dos centro de decisão e de poder de uma comunidade. Assim, em Portugal, a variedade standard é a falada na região de Lisboa. Contudo, na comunidade linguística do Brasil a variedade standard está associada às variedades de várias capitais estaduais. Cada variedade linguística tem uma gramática própria igualmente válida. Dentro de cada variedade há tensões e grupos sociais com traços próprios. Dentro de cada varieade linguística há variação interna em função dos vários critérios: idade, sexo, escolaridade, etc.

Variante - O termo variante é utilizado nos estudos de sociolinguística para designar o item linguístico que é alvo de mudança. Assim, no caso de uma variação fonética, a variante é o alofone. Representa, portanto, as formas possíveis de realização.

Variável - A variável é o traço, forma ou construção linguística cuja realização apresenta variantes observadas pelo investigador.

Retirado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Socioling%…

O que é a sociolingüística?

É uma vertente da lingüística que tem como objetivo o estudo da fala em situação de uso.
Possui duas vertentes: a interacional que estuda o uso da língua na relação entre os pares. E a vertente variacionista que investiga as formas de identificação das pessoas por meio da expressão verbal.

O que é variação lingüística?
Para Cagliari, 1999, são as peculiaridades que a língua vai adquirindo com o tempo em função do seu uso por comunidades específicas. “Todas as variedades, do ponto de vista estrutural lingüístico, são perfeitas e completas entre si. O que as diferencia são os valores sociais que seus membros têm na sociedade.”

A sociolingüística está dividida em dois ramos, o norte americano e o europeu. Para o primeiro, variações lingüísticas são as diferenças dentro de uma mesma língua quanto ao uso, vocabulário, semântica. E, o ramo europeu considera como variação lingüística o dialeto. O que, para alguns lingüistas, é considerado outra língua.

Fichamento do texto: A Escola entre a Ciência e o Senso Comum, Marcos Bagno, 2007.

“...onde tem variação (lingüística) sempre tem avaliação (social).”

O autor coloca que nossa sociedade é extremamente hierarquizada e que os bens e valores culturais circulantes, incluindo a língua, também o são. Dessa maneira, a sua forma de falar diz à que camada social você pertence. O que torna a língua um poderoso instrumento de controle social, de promoção ou de humilhação, de inclusão ou de exclusão.

Mesmo sabendo que as formas nós vai e nós vamos são duas formas de dizer a mesma coisa, elas comunicam a origem social de quem fala, sua inserção maior ou menor na cultura letrada, sempre mais valorizada que a oral.

Ao professor cabe promover a reeducação sociolingüística, que é valer-se do espaço e do tempo escolares para formar cidadãos conscientes da complexidade da dinâmica social, das múltiplas escalas de valores que empregamos a todo momento em nossas relações com as outras pessoas por meio da linguagem.
Esse trabalho implica em levar o aluno a:
Entender que é possuidor de plena capacidade de expressão.
Tomar consciência da escala de valores existente na sociedade, mas sem levar a aceitação dessa discriminação nem à submissão a ela.
Ampliar o seu repertório comunicativo.
Conscientizar-se de que a língua é elemento de promoção social e também de repressão.
Inserir-se nas práticas de letramento.
Reconhecer a diversidade lingüística como uma riqueza da nossa cultura.

Bagno faz uma crítica ao uso inadequado das tiras do Chico Bento, dos sambas de Adoniran Barbosa e dos poemas de Patativa do Assaré para tratamento da variação lingüística. O uso apenas desses exemplos mostra que a variação lingüística é tratada como sinônimo de variedade regional, de pessoas não escolarizadas. Além disso, as falas desses personagens não são representações fiéis das variedades lingüísticas que veiculam, mas deve ficar claro que esse não é o problema já que são manifestações artísticas e não têm o compromisso científico.
O interessante seria levar os alunos a refletirem sobre a não fidelidade da transcrição que aparece nas tirinhas e que muitos traços ali presentes apareçam no meio urbano também.
O português brasileiro são três: uma norma padrão que ninguém fala, aquela da gramática. Um conjunto de variedades estigmatizadas e um conjunto de variedades prestigiadas.


Existem dois conjuntos de traços lingüísticos:
Traços graduais – presentes em todos os falantes (rôpa, pôco, ôro)
Traços descontínuos – presentes nos falantes das variedades estigmatizadas (teia, abêia, trabaia)

O conceito de erro: é sociocultural e depende da avaliação do meio que se está inserido. Para a lingüística o erro não existe, ele é um fenômeno passível de ser explicado por teorias lingüísticas.

“Certo e errado são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar em que consideração os tem... Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças lingüísticas com marcas de prestígio ou estigma.” (CAGLIARI, 1999)

Textos:
Oralidade e Aquisição da Linguagem Escrita - Malu Alves de Souza
Métodos de alfabetização e consciência fonológica: o tratamento de regras de variação e mudança - Stella Maris Bortoni-Ricardo

Sites:
Stella Bortoni


Livros:
Alfabetização e Lingüística – Luiz Carlos Cagliari – SP – Sipione, 1999
Nada na Língua é Por Acaso – Marcos Bagno – SP, Parábola, 2007