TEXTOS EDUCATIVOS

Neste espaço você encontrará muitos textos acerca de diversos temas. Entre eles as diversas formas de linguagem.

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO

Géneros Literários - Género Narrativo
Esquema da narração

Tipos de redacção ou composição

Tudo o que se escreve recebe o nome genérico de redacção (ou composição). Existem três tipos de redacção: descrição, narração e dissertação. É importante que perceba a diferença entre elas. Leia, primeiramente, as seguintes definições:



Descrição

É o tipo de redacção na qual se apontam as características que compõem um determinado objecto, pessoa, ambiente ou paisagem.

Exemplo:

A sua estatura era alta e seu corpo, esbelto. A pele morena reflectia o sol dos trópicos. Os olhos negros e amendoados espalhavam a luz interior de sua alegria de viver e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.



Narração

É a modalidade de redacção na qual contamos um ou mais factos que ocorreram em determinado tempo e lugar, envolvendo certas personagens.

Exemplo:

Numa noite chuvosa do mês de Agosto, Paulo e o irmão caminhavam pela rua mal-iluminada que conduzia à sua residência. Subitamente foram abordados por um homem estranho. Pararam, atemorizados, e tentaram saber o que o homem queria, receosos de que se tratasse de um assalto. Era, entretanto, somente um bêbado que tentava encontrar, com dificuldade, o caminho de sua casa.

Dissertação

É o tipo de composição na qual expomos ideias gerais, seguidas da apresentação de argumentos que as comprovem.

Exemplo:

Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema educacional. Argumentam alguns que ele deve ter por objectivo despertar no estudante a capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e relacioná-las com a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para a compreensão dos problemas socio-económicos e que despertasse no aluno a curiosidade científica seria por demais desejável.

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Não há como confundir estes três tipos de redacção. Enquanto a descrição aponta os elementos que caracterizam os seres, objectos, ambientes e paisagens, a narração implica uma ideia de acção, movimento empreendido pelos personagens da história. Já a dissertação assume um carácter totalmente diferenciado, na medida em que não fala de pessoas ou factos específicos, mas analisa certos assuntos que são abordados de modo impessoal.



A NARRAÇÃO



Tipos de narrador

Narrar é contar um ou mais factos que ocorreram com determinadas personagens, em local e tempo definidos. Por outras palavras, é contar uma história, que pode ser real ou imaginária.

Quando vai redigir uma história, a primeira decisão que deve tomar é se você vai ou não fazer parte da narrativa. Tanto é possível contar uma história que ocorreu com outras pessoas como narrar factos acontecidos consigo. Essa decisão determinará o tipo de narrador a ser utilizado na sua composição. Este pode ser, basicamente, de dois tipos:

1. Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da acção, ou seja, que se inclui na narrativa. Trata-se do narrador-personagem. 1. Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da acção, ou seja, que se inclui na narrativa. Trata-se do narrador-personagem.

Exemplo:

Andava pela rua quando de repente tropecei num pacote embrulhado em jornais. Agarrei-o vagarosamente, abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.

2. Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não participa da acção, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então o narrador-observador. 2. Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não participa da acção, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então o narrador-observador.

Exemplo:

João andava pela rua quando de repente tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Agarrou-o vagarosamente, abriu-o e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.

OBSERVAÇÃO:

Em textos que apresentam o narrador de 1.ª pessoa, ele não precisa ser necessariamente a personagem principal; pode ser somente alguém que, estando no local dos acontecimentos, os presenciou.

Exemplo:

Estava parado na paragem do autocarro, quando vi, a meu lado, um rapaz que caminhava lentamente pela rua. Ele tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Observei que ele o agarrou com todo o cuidado, abriu-o e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.



Elementos da narração

Depois de escolher o tipo de narrador que vai utilizar, é necessário ainda conhecer os elementos básicos de qualquer narração.

Todo o texto narrativo conta um FACTO que se passa em determinado TEMPO e LUGAR. A narração só existe na medida em que há acção; esta acção é praticada pelos PERSONAGENS.

Um facto, em geral, acontece por uma determinada CAUSA e desenrola-se envolvendo certas circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o MODO como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o facto ocorreu. Um acontecimento pode provocar CONSEQUÊNCIAS, as quais devem ser observadas.

Assim, os elementos básicos do texto narrativo são:

1. FACTO (o que se vai narrar);

2. TEMPO (quando o facto ocorreu);

3. LUGAR (onde o facto se deu);

4. PERSONAGENS (quem participou do ocorrido ou o observou);

5. CAUSA (motivo que determinou a ocorrência);

6. MODO (como se deu o facto);

7. CONSEQUÊNCIAS.

Uma vez conhecidos esses elementos, resta saber como organizá-los para elaborar uma narração. Dependendo do facto a ser narrado, há inúmeras formas de dispô-los. Todavia, apresentaremos um esquema de narração que pode ser utilizado para contar qualquer facto. Ele propõe-se situar os elementos da narração em diferentes parágrafos, de modo a orientá-lo sobre como organizar adequadamente a sua composição.



Esquema de narração



1º Parágrafo: Explicar que facto será narrado. Determinar o tempo e o lugar INTRODUÇÃO

2º Parágrafo: Causa do facto e apresentação das personagens. DESENVOLVIMENTO

3º Parágrafo: Modo como tudo aconteceu (detalhadamente).
4º Parágrafo: Consequências do facto. CONCLUSÃO

OBSERVAÇÕES:

1. É bom lembrar que, embora o elemento Personagens tenha sido citado somente no 2º parágrafo (onde são apresentados com mais detalhes), eles aparecem no decorrer de toda a narração, uma vez que são os desencadeadores da sequência narrativa.

2. O elemento Causa pode ou não existir na sua narração. Há factos que decorrem de causa específica (por exemplo, um atropelamento pode ter como causa o descuido de um peão ao atravessar a rua sem olhar). Existe, em contrapartida, um número ilimitado de factos dos quais não precisamos explicar as causas, por serem evidentes (por exemplo, uma viagem de férias, um assalto a um banco, etc.).

3. três elementos mencionados na Introdução, ou seja, facto, tempo e lugar, não precisam necessariamente aparecer nesta ordem. Podemos especificar, no início, o tempo e o local, para depois enunciar o facto que será narrado.

Utilizando esse recurso, pode narrar qualquer facto, desde os incidentes que são noticiados nos jornais com o título de ocorrências policiais (assaltos, atropelamentos, raptos, incêndios, colisões e outros) até factos corriqueiros, como viagens de férias, festas de adeptos de futebol, comemorações de aniversário, quedas e acontecimentos inesperados ou fora do comum, bem como quaisquer outros.

É importante ressaltar que o esquema apresentado é apenas uma sugestão de como se pode organizar uma narração. Temos inteira liberdade para nos basearmos nele ou não. Mostra-se apenas uma das várias possibilidades existentes de se estruturarem textos narrativos. Caso se deseje, poderá inverter-se a ordem de todos os elementos e fazer qualquer outra modificação que se ache conveniente, sem prejuízo do entendimento do que se quer transmitir. O fundamental é conseguir-se contar uma história de modo satisfatório.



A narração objectiva

Observe-se agora um exemplo de narração sobre um incêndio, criado com o auxílio do esquema estudado. Lembre-se de que, antes de começar a escrever, é preciso escolher o tipo de narrador. Optámos pelo narrador de 3ª pessoa.



O incêndio

Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, num apartamento de propriedade do Sr. António Pedro.

No local habitavam o proprietário, a sua esposa e os seus dois filhos. Todos eles, na hora em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam a jantar num restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto circuito ocorrido no sistema eléctrico do velho apartamento.

O fogo começou num dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o e imediatamente foi chamar o Sr. António. Ele, rapidamente, ligou para os Bombeiros.

Embora não tivessem demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e a sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o facto de aquele incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos.

Vamos observar as características desta narração. O narrador está na 3ª pessoa, pois não toma parte na história; não é nem membro da família, nem o porteiro do restaurante, nem um dos bombeiros e muito menos alguém que passava pela rua na qual se situava o prédio. Outra característica que deve ser destacada é o facto de a história ter sido narrada com objectividade: o narrador limitou-se a contar os factos sem deixar que os seus sentimentos, as suas emoções transparecessem no decorrer da narrativa.

Este tipo de composição denomina-se narração objectiva. É o que costuma aparecer nas "ocorrências policiais" dos jornais, nas quais os redactores apenas dão conta dos factos, sem se deixar envolver emocionalmente com o que estão a noticiar. Este tipo de narração apresenta um cunho impessoal e directo.



A narração subjectiva

Existe também um outro tipo de composição chamado narração subjectiva. Nela os factos são apresentados levando-se em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. Nota-se claramente a posição sensível e emocional do narrador ao relatar os acontecimentos. O facto não é narrado de modo frio e impessoal, pelo contrário, são ressaltados os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nas personagens. É, portanto, o oposto da narração objectiva.

Daremos agora um exemplo de narração subjectiva, elaborada também com o auxílio do esquema de narração. Escolhemos o narrador de 1.ª pessoa. Esta escolha é perfeitamente justificável, visto que, participando da acção, ele envolve-se emocionalmente com maior facilidade na história. Isso não significa, porém, que uma narração subjectiva requeira sempre um narrador em 1.



Com a fúria de um vendaval

Numa certa manhã acordei entediada. Estava nas minhas férias escolares do mês de Agosto. Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre.

Não tinha nada para fazer, e isso estava a matar-me de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre não constitui exactamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em direcção daquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.

O homem, dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que gorda (monstruosa), erguia os seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a assustar-me, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia gritando empolgando-se com a sua raiva crescente e ficando cada vez mais vermelha, como os tomates, ou até mais.

De repente, no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachou-se no asfalto, para o divertimento do pequeno público que, assim como eu, assistiu àquela cena incomum.

OBSERVAÇÃO:

A narração pode ter a extensão que convier. Pode aumentá-la ou diminuí-la, suprimindo detalhes menos importantes. Lembre-se: quando um determinado parágrafo ficar muito extenso, pode dividi-lo em dois. Destacamos, mais uma vez, que o esquema dado é uma orientação geral e não precisa ser necessariamente seguido; ele pode sofrer variações referentes ao número de parágrafos ou à ordem de disposição dos elementos narrativos.



O discurso do narrador

Comparando os dois modelos de narração apresentados, poderá perceber a diferença entre narrador em 1ª e 3ª pessoas, a maneira como se elabora uma narração utilizando o esquema estudado, a existência da narração objectiva em oposição à narração subjectiva e alguns outros aspectos.

É importante também que observe um outro facto sobre o qual ainda não fizemos qualquer comentário. Lendo as narrações O incêndio e Com a fúria de um vendaval, notará com facilidade que o narrador contou cada uma das histórias com as suas próprias palavras. Ele não introduziu diálogos na redacção registando a fala dos 23 personagens. Essas duas narrações foram elaboradas sem que o narrador introduzisse o discurso directo, isto é, o diálogo entre as personagens.

Não se esqueça também de que o esquema de narração não precisa ser seguido à risca. Se julgar importante fazer qualquer alteração, nada o impede de fazê-la, desde que a sua composição não perca as características de organização e clareza indispensáveis a todas as narrações.






A NARRAÇÃO E OS TIPOS DE DISCURSO



Discurso directo e discurso indirecto

Agora veremos como introduzir o discurso directo (registo da fala dos personagens) no meio de uma narração, bem como transformá-lo em discurso indirecto.

O primeiro passo é conseguir diferenciar o discurso indirecto do discurso directo.

Veja estes exemplos:



Discurso indirecto

O rapaz, depois de estacionar o seu automóvel num pequeno posto de gasolina daquela estrada, perguntou a um funcionário onde ficava a cidade mais próxima. Ele respondeu que havia um vilarejo a dez quilómetros dali.



Discurso directo

O rapaz, depois de estacionar o seu automóvel num pequeno posto de gasolina daquela estrada, perguntou:

— Onde fica a cidade mais próxima ?

— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui - respondeu o funcionário.

Observe o exemplo de discurso directo. Antes do registo da fala do personagem existe um travessão (—) que inicia um novo parágrafo. No último período desse texto notou que há também um outro travessão, colocado antes da palavra respondeu; ele serve para separar a fala do personagem da explicação do narrador ("respondeu o funcionário").

Quando o narrador quer informar qual a personagem que fala, o texto pode ser organizado de duas maneiras:

Primeiro explica-se quem vai falar. A frase termina por dois-pontos (:). Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala da personagem.
Exemplo:

O funcionário respondeu:

— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui.

Em primeiro lugar, regista-se, depois de posto o travessão, a fala da personagem. Na mesma linha coloca-se um outro travessão e, em seguida, a frase pela qual o narrador explica quem está dizendo aquilo (iniciada por letra minúscula).
Exemplo:

— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui - respondeu o funcionário.

OBSERVAÇÃO:

Já verbos que se caracterizam por introduzir a fala do personagem, ou mesmo explicar quem está a fazer a afirmação registada depois do travessão. Denominam-se verbos de elocução e alguns exemplos deles são: falar, perguntar, responder, indagar, replicar, argumentar, pedir, implorar, comentar, afirmar e muitos outros.

Vejamos agora um exemplo de como podemos introduzir o discurso directo numa narração.

Leia o texto abaixo, onde não aparece a fala dos personagens. É o narrador que conta os acontecimentos.



O primeiro dia no curso

Maria Helena acabava de matricular-se num famoso curso, desses que preparam os alunos para os exames.

Logo no primeiro dia de aulas, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam à sua turma de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.

Quando deu o sinal do intervalo, tentou encontrar o bar que ficava no piso térreo. Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar.

Após algum tempo, chegou ao piso térreo. Olhou para todos os lados e não viu bar nenhum.

Pouco tempo depois, descobriu que o bar era ali mesmo, mas não dava para ver a caixa registadora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não sabia.

Leia agora a mesma redacção, depois de introduzidos alguns trechos de discurso directo.



O primeiro dia no curso

Maria Helena acabava de matricular-se num famoso curso, desses que preparam os alunos para os exames.

Logo no primeiro dia de aulas, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam à sua turma de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala, espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.

Quando deu o sinal do intervalo, Maria Helena perguntou a um colega de classe:

— Você, por acaso, sabe onde fica a lanchonete?

— Fica no piso térreo — respondeu-lhe o colega gentilmente.

Ela então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar.

Após algum tempo chegou ao piso térreo.

— Por favor, você sabe onde fica o bar? Disseram que ficava no piso térreo — perguntou Maria Helena a uma moça que estava a seu lado.

— Mas você já está no bar!

Descobriu então que estava no lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registadora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não sabia.



A transformação do discurso directo em indirecto e vice-versa

Já aprendeu a identificar os dois tipos de discurso; notou que eles não são registados do mesmo modo. Vamos agora sistematizar as diferenças que pudemos perceber entre eles.



Discurso Directo
Discurso Indirecto

verbos no presente do indicativo (fica, há)
Pontuação característica (travessão, dois pontos)


Verbos no pretérito imperfeito do indicativo (ficava, havia)
Ausência de pontuação característica




Portanto, o primeiro passo para se transformar um tipo de discurso em outro consiste em efectuar as modificações mencionadas, ou seja, alterar o tempo dos verbos e utilizar a pontuação adequada. Entretanto, restam ainda alguns detalhes.



Tempos Verbais

No exemplo apresentado de discurso directo, as personagens utilizavam o verbo no presente do indicativo. E se eles se estivessem a expressar no pretérito ou noutro tempo verbal? Siga, na tabela seguinte, as correlações entre alguns tempos verbais e os tipos de discurso.




Discurso Directo Discurso Indirecto



presente do indicativo: — Tenho pressa — disse o rapaz. pretérito imperfeito do indicativo: O rapaz disse que tinha pressa.
pretérito perfeito do indicativo: — Presenciei toda a cena — declarou o jovem. pretérito mais-que-perfeito simples ou composto: O jovem declarou que presenciara (tinha presenciado) toda a cena.



imperativo: — Cala-te — ordenou o senhor ao seu vassalo.

pretérito imperfeito do subjuntivo: O senhor ordenou ao seu vassalo que ele se calasse.



futuro do presente do indicativo: — Farei o possível — disse o rapaz.

futuro do pretérito do indicativo: O rapaz disse que faria o possível.

Não vamos relacionar todos os tempos de verbos e as suas modificações. Acreditamos que basta uma observação de carácter geral: ao transformar o discurso directo em indirecto, estará a transcrever algo que alguém já disse; portanto, no discurso indirecto, o tempo será sempre passado em relação ao discurso directo. O mecanismo é basicamente o mesmo para todos os casos. Veja-se este último exemplo:

Discurso directo

— Quero que você me siga — disse Pedro. (presente do indicativo, presente do conjuntivo)

— Se estiver disposta, eu fá-lo-ei — replicou Paula. (futuro do conjuntivo, futuro do presente do indicativo)

Discurso indirecto

Pedro disse à Paula que queria que ela o seguisse. (pretérito imperfeito do indicativo, pretérito imperfeito do conjuntivo) Paula replicou que, se estivesse disposta, ela fá-lo-ia. (pretérito imperfeito do conjuntivo, futuro do pretérito do indicativo)



Pronomes e advérbios

Outras classes de palavras, como os pronomes e alguns advérbios, podem igualmente requerer alterações. Observe o exemplo:

Discurso directo

— Venha cá, minha filha — disse a mãe, impaciente.

— Estarei aí daqui a cinco minutos.

Discurso indirecto

A mãe, impaciente, pediu a sua filha que fosse até lá. Ela respondeu que estaria lá dali a cinco minutos.

Discurso directo

— Onde estão os meus bilhetes para o espectáculo de patinagem? — perguntou Pedro.

— Estavam aqui ainda neste instante! — replicou Maria.

Discurso indirecto

Pedro perguntou a Maria onde estavam os seus ingressos para o espectáculo de patinagem. Ela replicou que eles estavam ali ainda naquele instante.



Um acto involuntário

Após assistir às aulas do curso, no seu primeiro dia de aulas, Maria Helena dirigiu-se à paragem do autocarro.

Na paragem havia dezenas de pessoas, alunos com o seu material escolar na mão, à espera dos transportes colectivos que passavam por aquela imensa avenida. Aproximava-se o seu autocarro. Ao avistá-lo, notou que vinha superlotado e decidiu esperar por um outro veículo da mesma linha. Ele certamente passaria cinco minutos depois.

Ela estava na paragem, cercada por inúmeras pessoas, e não sabia que a maioria delas iria entrar nesse autocarro. De repente, quando o veículo parou, todos correram em direcção à porta, empurrando Maria Helena. Ela, sem querer, impulsionada pelos outros que a circundavam, subiu a escadinha do autocarro, contra a sua vontade, tal o número de pessoas que a comprimiam.

Já dentro do veículo, ouviu a inútil solicitação do cobrador para que as pessoas dessem um passo à frente. Não havia para onde ir, nem mesmo como se mexer, devido à superlotação.

OBSERVAÇÃO:

Sugerimos a introdução, após o primeiro parágrafo, de uma conversa entre Maria Helena e uma outra pessoa que também estivesse na paragem do autocarro. Também é possível criar um diálogo entre um dos passageiros e o cobrador. Além dessas sugestões, pode imaginar qualquer outro diálogo relacionado com a história narrada.






Níveis de linguagem

Vamos falar agora sobre os tipos de linguagem que pode utilizar nas suas narrações.

Como já deve ter ouvido dizer, existem basicamente dois níveis de linguagem: a linguagem formal e a linguagem coloquial.

Entendemos por linguagem formal a língua culta, que se caracteriza pela correcção gramatical, ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário e frases bem elaboradas.

A linguagem coloquial, por sua vez, é aquela que as pessoas utilizam no dia-a-dia, conversando informalmente com amigos, parentes e colegas. É a linguagem descontraída, que dispensa formalidades e aceita gírias, diminutivos afectivos e palavras de cunho regional.

A narração, pode comportar os dois níveis de linguagem. Recomendamos que utilize a linguagem formal nas frases do narrador e a linguagem coloquial no registo da fala de algumas personagens. Expliquemos melhor: se registar, no discurso directo, a fala de um alentejano, poderá utilizar palavras ou expressões típicas do linguajar da sua região, para dar um cunho de veracidade à composição; se a conversa estiver a ser travada entre dois adolescentes, cabe a introdução de algumas gírias. Dessa forma, a redacção torna-se mais convincente, na medida em que cada personagem é apresentada com o registo de fala que normalmente o caracteriza.

Isso não significa, porém, que o discurso directo deva sempre estar relacionado com a linguagem coloquial. Pelo contrário, tratando-se de personagens cultos (ou mesmo razoavelmente instruídos), deve utilizar a linguagem formal no registo das suas falas.

OBSERVAÇÃO:

Esteja atento às solicitações que possam ser feitas nas redacções que vier a realizar. Caso se peça para elaborar uma narração utilizando a linguagem formal, este tipo de linguagem deverá aparecer em toda a composição, independentemente de quem sejam as personagens envolvidas nos trechos do discurso directo.

Veja, nestes pequenos trechos a seguir, como os dois tipos de linguagem podem aparecer no discurso directo. Lembre-se de que o narrador vale-se sempre da linguagem formal.



Linguagem coloquial

Os dois amigos encontraram-se no pátio do colégio, na hora do intervalo, e Marcos perguntou:

— Como é que é, Zé ? Tás a fim de dar uns giros por aí depois da aula ?

— Normal ! A gente pode chamar o Nandinho e ir pra uma esplanada -respondeu José bastante animado.

— É isso. Deixa-me ir, que já tocou — disse Marcos apertando o passo.



Linguagem formal

No corredor de uma universidade, um eminente professor de Direito Penal encontra um ex-aluno, agora seu colega. O professor diz-lhe:

— Que prazer encontrá-lo depois de tanto tempo!

— Como está, professor? É bom revê-lo — sorriu o ex-aluno emocionado. — O senhor nem pode imaginar o quanto me foram úteis os conhecimentos que adquiri nas suas aulas.

— Você sempre foi um bom aluno. Tinha a certeza de que se tornaria um advogado notável.

Última Actualização ( Quarta, 29 Junho 2005 )
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

LINGUAGEM NA INTERNET E CELULAR



Um estudo realizado no ano passado por um professor universitário na Austrália revelou que os jovens, se têm facilidade para escrever mensagens de maneira abreviada, podem não ter tanta habilidade assim para lê-las. Quase metade dos 55 estudantes envolvidos demorou duas vezes mais para ler do que para escrever mensagens do tipo “Vc q tc?”. Por que então a linguagem simplificada virou praxe entre quem usa a internet e costuma mandar mensagens de texto pelo telefone celular? A professora Maria Teresa de Assunção Freitas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sugere algumas possibilidades. Ela é autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola.
1. Por que as pessoas abreviam a linguagem na web?
2. Onde e por quem essa linguagem abreviada é mais usada?
3. Por que essa linguagem tem mais adeptos entre os adolescentes?
4. Isso já acontecia antes em outros meios?
5. A escrita abreviada e simplificada prejudica a compreensão?
6. Há padrões de escrita para internet e celular?
7. Essa escrita vicia?
8. Essa linguagem pode modificar a língua que falamos?
9. A internet faz o adolescente ler menos?
10. Exemplos da linguagem da internet





1. Por que as pessoas abreviam a linguagem na web?
Para a professora Maria Teresa de Assunção Freitas, são dois os principais motivos da abreviação de palavras: o primeiro, a facilidade de se escrever de modo simplificado, e o segundo, a pressa. Esta, por sua vez, está ligada a outras duas razões: a economia (mandar uma mensagem maior pelo celular pode custar mais) e o desejo de reproduzir virtualmente o ritmo de uma conversa oral. “É para acelerar o bate-papo, que na internet, em chats e programas de mensagem instantânea, acontece em tempo real”, explica a especialista. “No celular, há o agravante do teclado, que é menor, e do preço, que é maior.” Uma terceira causa seria o desejo do adolescente de pertencer a um grupo: ele pode adaptar a sua escrita à linguagem da comunidade de que quer fazer parte - com o uso dos termos adaptados, ele adere aos códigos do grupo.

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2. Onde e por quem essa linguagem abreviada é mais usada?
Os principais autores da escrita simplificada são os jovens e, entre eles, os adolescentes. Eles fazem uso desse tipo de linguagem no celular e na internet, especialmente em canais de relacionamento, como o Orkut e o MSN. “Mas essa linguagem teve início nos chats”, afirma a professora Maria Teresa, que já realizou uma pesquisa na área, também começando pelas salas de bate-papo virtuais. Nos e-mails, segundo ela, a escrita abreviada tem menos lugar porque se trata de um meio de comunicação assíncrono, ou seja, a informação é enviada em intervalos irregulares: uma pessoa envia uma mensagem para outra, mas não sabe quanto terá uma resposta. É um ritmo parecido com o da tradicional troca de cartas. No celular, a linguagem abreviada fica restrita aos torpedos, que são escritos.

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3. Por que essa linguagem tem mais adeptos entre os adolescentes?
Os adolescentes têm grande facilidade de se adaptar aos símbolos de um novo código, pelas características da própria idade. Não é de hoje que colegas de escola trocam bilhetinhos durante a aula. Longe das vistas do professor, trocam papéis amassados ou dobrados - se é que hoje não o fazem por celular ou mesmo pela internet, nos colégios onde o computador é instrumento de ensino. É próprio do adolescente criar código. No celular, porém, a adesão à linguagem simplificada é maior, devido à dificuldade de digitar no pequeno teclado do aparelho telefônico. Jovens adultos e adultos também vêm passando a utilizá-la.

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4. Isso já acontecia antes em outros meios?
Sim, mas de modo diferente. O telegrama é um meio de comunicação que faz uso da linguagem abreviada, mas segue um código mais formal, mais atento às regras ortográficas cultas. Não é usual, por exemplo, trocar “assim” por “axim” ou “endosso” por “endoço”. O telégrafo, aliás, chegou a fazer uso do Código Morse, que, com pontos e traços, facilitava a transmissão da mensagem. O texto era transmitido de forma codificada pelo telegrafista, que se colocava como intermediário entre emissor e receptor. Depois, a mensagem era transportada por navio, trem ou avião (mais tarde). Nas conversas pela internet ou pelo celular, essa figura não está presente, o que permite uma maior intimidade entre as partes envolvidas no diálogo. Além disso, a escrita da internet está contaminada pelos ares de sua época: ela é uma forma própria ao suporte em que se deita. “O contexto gera formas novas de utilizar a linguagem”, afirma a professora Maria Teresa.

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5. A escrita abreviada e simplificada prejudica a compreensão?
Quando duas pessoas dominam o mesmo código, não costuma haver dificuldade na troca de mensagens. Mas uma pessoa que nunca empregou uma linguagem como a que os adolescentes usam na internet pode achá-la uma loucura à primeira leitura. “Pais e mães podem pensar que é uma escrita errada, quando não é: é uma escrita feita para um suporte próprio, adaptada para uma determinada situação. Não há erro de ortografia, embora essa linguagem desobedeça à regra culta”, defende Maria Teresa. Dentro daquele sistema, explica a professora, a substituição de “ss” por “ç” faz sentido e não representa um erro. É claro também que, como demonstrou a experiência realizada na Austrália, pode haver maior dificuldade em ler a mensagem em voz alta do que escrever de maneira reduzida - especialmente se quem lê em voz alta não domina bem o código que está lendo.

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6. Há padrões de escrita para internet e celular?
A linguagem abreviada, especialmente a da web, segue os padrões da oralidade. Ela substitui uma conversa ou um bate-papo. “O interlocutor está presente e em tempo real, apesar da distância”, diz Maria Teresa. “Para andar mais rápido, se escrevem oxítonas com acento agudo sem acento e com ‘h’ no final, como ‘cafeh’, e se firmam acordos tácitos para uso de determinadas palavras, como ‘vc’ em vez de ‘você’ ou ‘tc’ em vez de ‘teclar’.” Outros elementos que fazem parte desse sistema são as representações de emoção, geradas para compensar a ausência física do interlocutor: "risos", "rs", "eheh", ":)", ":(", "[]", etc. Há diversas fontes na internet, como sites específicos e, o próprio MSN, onde usuários dessa linguagem podem copiar símbolos ou emoticons para depois usá-los em suas mensagens.

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7. Essa escrita vicia?
Muitos adolescentes ouvidos por Maria Teresa, em sua pesquisa, demonstraram saber separar as coisas. “Eles sabem que na escola não podem escrever da mesma forma que na internet”, diz ela. “Essa linguagem é um gênero novo de discurso, e os usuários sabem disso, sabem que é algo diferente do que está no livro ou em outro lugar.” Para a professora, uma prova de que os adolescentes sabem separar as coisas é que, quando o canal de filmes pago Telecine criou a sessão Cyber Vídeo, com legendas que se apropriavam do internetês, houve uma forte reação dos próprios adolescentes contra o método. “Eles diziam que não era linguagem própria para o cinema, que era linguagem de internet.” Dirigida ao público teen, a experiência do Telecine não foi mesmo para frente: estreou em 2005 e já no ano seguinte saiu do ar.

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8. Essa linguagem pode modificar a língua que falamos?
É possível que essa linguagem venha, no futuro, a modificar a língua que falamos. Já começamos a incorporar, no português do Brasil, os termos da informática e da internet, como "deletar", "caps lock", "control+c", "control+v", "control+z". Há muita gente rindo em voz alta como na web: “eheheh”. “A língua é uma coisa viva, porque falada. Só a língua morta, como é o caso do latim, permanece estática. Há palavras do português que sumiram, enquanto outras foram incorporadas. A língua é dinâmica, se transforma sempre”, diz Maria Teresa.

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9. A internet faz o adolescente ler menos?
Pelo contrário. A pesquisa da professora da UFJF mostra que a internet está levando o adolescente a ler e a escrever mais. O texto escrito foi redescoberto como forma de comunicação, e a leitura ganhou novos formatos. Há uma espécie de letramento digital. “A leitura é hipertextual: baseada no hipertexto, na utilização de links. Cada um faz a sua leitura, não precisa ser linear, enquanto o livro é geralmente linear”, pondera ela. Em resumo, no meio digital o leitor tem mais autoria na leitura - ele faz o seu próprio percurso, a sua seleção. E lê de maneira prazerosa, lúdica. “Isso é capaz de aproximar o adolescente da literatura. Há sites em que eles escrevem poesia, até de modo coletivo, e outros onde podem baixar e-books.”

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10. Exemplos da linguagem da internet
A "linguagem" da internet também fornece informações sobre o estado de espírito de quem escreve. Confira algumas amostras.
EMOTICONS

Sorriso :-) (-: :) =) :o)

Muito feliz (ou sorrindo muito) :-D

Triste ou indiferente :-( (:-( :-c :-< :-(((( :-t :-/

Sem expressão ou entediado :-| :-I

Surpreso ou de boca fechada :-X

Boca fechada (sem dizer uma palavra) :-v

Pensando ou assimilando :-I

Gritando :-O :-@

Chorando :,-( :'-(

Diabólico ou travesso ]:-)> ):-)

Piscando o olho ;-> ;-) ;) '-)

Beijo :-x :-*

De óculos 8-] 8-) B-)

Mostrando a língua :-J :-p

Bobo :-B

Bocejando |-O

Assoviando :-"

Abraço ((( ))) []'s

Rosa @->-



ACRÔNIMOS

Riso rs (abreviação de 'risos') ou kkkkkk
Gargalhada lol (iniciais de "laughing out loud", ou "rindo muito", em português)
Pensando ou assimilando hmmm ou huuum
Logo que der asap (inciais de "as soon as possible", ou "assim que possível", em português)
Já volto bbs (inciais de "be back soon", ou "volto logo", em português)


ABREVIAÇÕES

beleza blz

se c

que q

quando qd ou qdo

também tb, tbm ou tbém

tudo td

você vc



EXEMPLOS DE UMA ORTOGRAFIA PARTICULAR

achar axar

assim axim

é eh

então entaum

coloquei koloqei

como komo

amigo miguxo

não naum

nunca nunk

chegar xegar

qual Ql
quis Qz

você voxê ou vc

vocês v'6s ou vcs

só soh



Fonte: Microsoft (fabricante do MSN Messenger) e Maria Teresa de Assunção Freitas, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola

sábado, 16 de outubro de 2010

SER PROFESSOR É...



SER PROFESSOR É...

ACRÓSTICO

Sempre busca, pesquisa, investe, cria, recria, faz, refaz
Estuda e objetiva o que é melhor para o discente.
Renasce para mais um dia. Sempre um eterno aprendiz!!!

Pronto para ouvir todos seus alunos, humilde para tentar
Resolver os problemas em sala, da melhor maneira possível.
Observa as mudanças que acontecem na Educação,
Fica angustiado... Começa idealizar seus sonhos e objetivos,
E recomeça com entusiasmo a cada dia o seu trabalho. Vive
Sem receios de caminhar e de enfrentar a jornada cotidiana.
Sabe de todas as adversidades, porém, não desiste! Luta e vence.
Os obstáculos não o deixam cair; pois ele é forte, é um guerreiro.
Renova-se para vida, porque trabalha de forma corajosa e digna.

TEXTO DA PROFESSORA
NEUSA AMORIM

15 DE OUTUBRO DE 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Por que um, por que outro



Por que um, por que outro
Rogério Simões | 2010-10-04, 12:46

A ex-companheira de Lula acabou mesmo brilhando. Marina Silva tornou-se o elemento surpresa do primeiro turno da eleição presidencial e atrapalhou os planos do seu ex-colega de ativismo e partido. Ao perder a ministra Marina dois anos atrás, Luiz Inácio Lula da Silva deve ter pensado: "Paciência...". Certo de que Dilma Rousseff e seu desenvolvimentismo eram o caminho à frente, Lula certamente não imaginava que a antiga heroína dos seringueiros pudesse liderar uma chapa presidencial de peso e convencer quase 20 milhões de brasileiros a segui-la. Em tempos de aquecimento global, Marina Silva e o Partido Verde registraram um feito que já entra para a história da jovem democracia brasileira.

O PT e o o Palácio do Planalto começam agora a traçar sua estratégia para convencer aqueles que não votaram em Dilma Rousseff a optar por sua candidatura. É interessante tentar entender, então, por que a candidata escolhida a dedo por Lula, um presidente com cerca de 80% de popularidade, não venceu o pleito já no primeiro turno. Por que, afinal, 54 milhões de eleitores preferiram dar seu voto a um dos outros oito candidatos? E por que 47 milhões de eleitores mostraram-se convencidos de que Dilma é a melhor opção para o Brasil?

Quem votou em Dilma claramente está feliz com o estado atual do Brasil. Não com tudo, obviamente, já que o país ainda tem problemas (na saúde, segurança, habitação etc) que levam gerações para ser solucionados. Mas os eleitores da candidata do governo querem a continuidade do que têm hoje, do projeto político e econômico de Lula. Isso inclui o forte investimento na área social, o aumento do poder de compra das classes menos favorecidas e o fortalecimento do setor público, do aumento da participação estatal na Petrobras à expansão do funcionalismo. Também inclui uma política externa mais agressiva, de liderança regional e engajamento em questões delicadas mundo afora. Mais: aqueles que votaram em Dilma podem até não gostar das críticas de Lula à imprensa e mesmo se indignar com as acusações de tráfico de influência na Casa Civil. Mas acreditam que tais problemas sejam menores diante do projeto do PT para o país, que reduziu a pobreza e a desigualdade ao mesmo tempo em que criou condições para altas taxas de crescimento econômico e colocou o Brasil num posto de importância crescente no cenário internacional. O eleitor de Dilma orgulha-se do Brasil de Lula.

Já quem não votou em Dilma Rousseff quer mudança. Provavelmente não concorda com a expansão do setor público ou com a relação de proximidade entre Estado e sindicalismo. Também talvez não concorde com a política externa mais ousada e muitas vezes polêmica adotada pelo Itamaraty de Celso Amorim, que claramente elevou o status internacional do Brasil, mas também o associou a alguns regimes controversos. Quem votou em José Serra, Marina Silva ou outros deve ainda ter se revoltado com as denúncias envolvendo a Casa Civil. Também pode não gostar da personalidade de Dilma Rousseff, tida por muitos como autoritária nas relações pessoais, nem da forma como o presidente Lula tem conduzido a relação entre governo e imprensa. A extrema confiança do governo federal em sua forma de lidar com o setor de comunicação pode atrair muitos brasileiros, que veem em ações da imprensa a tentativa de minar o Executivo. Mas também pode alienar outros, que querem governantes mais receptivos a críticas e investigações. Em tempo: os que não votam em Dilma alegando fisiologismo nas alianças políticas devem se lembrar que, no Brasil, a prática não foi patenteada por nenhuma legenda. A relação entre PT e PMDB sob Lula é parecida com a relação entre PSDB e PFL sob Fernando Henrique Cardoso. Justificável ou não, o modelo tem sido aplicado no Brasil de forma verdadeiramente democrática, ou seja, por praticamente todos.

Olhando para os argumentos acima, talvez seja mais fácil entender as opções dos brasileiros para o segundo turno. Não se tratará apenas de um plebiscito sobre o governo Lula ou sobre Dilma, já que agora o voto anti-Dilma não terá mais Marina Silva como opção. O tucano José Serra terá seu passado, seus projetos e sua personalidade avaliados tanto quanto os de Dilma. Pelo menos em tese, segundos turnos são úteis para que o debate em torno de propostas e estilos seja aprofundado e para que os eleitores decidam não necessariamente quem desejam ver no poder, mas quem preferem. Trata-se de uma escolha entre um e outro. Por que votar em um, por que votar no outro. Ou por que não votar em um ou não votar no outro. Agora é hora de decisão. É isto ou aquilo.